A volta da Elle para o Brasil: entrevista com o jornalista de moda Guilherme Beauharnais

Matheus Fayad (2º semestre)

A revista de moda Elle, após deixar o Brasil em 2018, está de volta. A revista parisiense que chegou ao Brasil em 1988 pela editora Abril retorna ao país, agora pelo grupo Papaki e com foco nas mídias sociais. Quatro capas já foram divulgadas em seu Instagram e contam com grandes ícones do movimento negro, indígena e LGBTQ+ como a filósofa Djamila Ribeiro, a cantora e influenciadora Iza, o cantor Gilberto Gil e a cantora indígena LGBTQ+ Katú Mirim. A revista digital já está disponível e conta com planos de assinatura mensal, a partir de 19,89 reais.

O jornalista Guilherme Beauharnais, especialista em jornalismo de moda, que atua na agência IAM – Inteligencia em Moda, concedeu uma entrevista ao Portal de Jornalismo e falou sobre a falta que a revista fez no cenário brasileiro desde que foi descontinuada e o que esperar de sua volta para o Brasil.

Portal de Jornalismo: Como você enxerga as revistas de moda do Brasil em um cenário internacional?

Guilherme Beauharnais: Eu acho que, considerando há quanto tempo elas existem, nós estamos indo muito bem. Falando da Elle, por exemplo, teve capas sensacionais, como foi a capa espelhada, em 2015, também foi pioneira em colocar uma modelo trans na capa em 2011, a Vogue Brasil que foi a primeira Vogue do mundo a colocar uma Drag Queen na capa, na edição de outubro desse ano. Estão entre as revistas mais relevantes do hemisfério sul e isso é muito bacana. Isso considerando o tempo que elas existem. A própria Elle surge em Paris em 1945, e só chega ao Brasil em 1988, ou mesmo a Harper’s Bazaar, que existe desde 1867 e só chegou aqui no Brasil em 2011. Eu realmente acho que com esse ‘pouco tempo de vida’ a gente fez coisas muito bacanas, com equipes muito boas e pessoas muito competentes.

PJ: Você acredita que a revista Elle faz falta no cenário brasileiro desde que desapareceu em 2018?

GB: Com certeza, eu acho que qualquer revista faz falta quando por algum motivo deixa de ser publicada. Cada uma tem visões diferentes, uma linha editorial diferente, trazendo um olhar diferente sobre a moda. Quando a gente perde o contato com elas, a gente sente muita falta. Foi uma notícia realmente muito boa que a Elle voltou, agora com outro investidor, com o grupo Papaki e não mais com a editora Abril, e é muito bacana ver que tem pessoas querendo investir, mesmo nesse momento atual que o mercado editorial está sofrendo bastante e isso é muito bacana. E mesmo com foco no digital, a Elle inda vai publicar quatro edições impressas por ano. Eu particularmente acredito que o digital não substitui o impresso. Mas o digital e o impresso da Elle têm propostas diferentes, eles estão sabendo lidar com isso de uma forma muito bacana.

PJ: Você acha que tem algum motivo específico de a Elle voltar para o Brasil com foco no digital?

GB: Então, estamos em um momento que manter um veículo impresso é muito complicado e caro, então é claro que esse foco no digital vem junto a essa questão do investimento, do retorno. Mas também é uma questão da atualidade. Muitas pessoas hoje em dia querem consumir direto no digital, é mais rápido, mais prático e mais acessível, vários veículos já estão indo para esse lado, de investir cada vez mais no digital, então acredito que a Elle sai muito na frente fazendo isso.

PJ: Em relação ao público-alvo, quem você acha que consome, na sua opinião, a Elle no Brasil?

GB: Acredito que todos podem consumir a Elle no Brasil. As pautas os textos estão cada vez mais inclusivos e mais diversos e com temas que eu acho que são de interesse geral. Nós não podemos esquecer que a Elle surge como uma revista feminista no pós-guerra, e sempre trabalha com essas questões: da vanguarda, de abortos, de contraceptivos, sempre foi uma revista que esteve muito a frente de seu tempo. Acredito que ela continua assim, até porque a equipe da Elle, além de ser muito dedicada, já tem um histórico. A Suzana Barbosa, que hoje é a editora-chefe, já estava na Elle há muito tempo, então ela conhece a revista, e eu acho que por conta disso eles conseguem produzir conteúdos que conversam com os leitores. Acredito que hoje em dia mais pessoas estão consumindo esse conteúdo, então não sei se é possível dizer sobre um público-alvo. Eu acompanho as meninas nas redes sociais, os comentários nos posts, grupos no Facebook também, e é muito variado, enfim de todos os gêneros, sexualidades e idades, é um público bem variado, e tem que ser assim mesmo, a moda é multifacetada.

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