Metade rebeldia, metade excentricidade, a nova tendência defende o conforto e a autenticidade no vestir
Um par de crocs, meias até a canela, camisas largas e pochete. Foi-se o tempo em que a única função da moda era agradar aos olhos. O objetivo agora é provocar sensações e incomodar aqueles que seguem o padrão da harmonia, de gênero e da beleza tradicional. E nenhum termo seria melhor para definir essa concepção do que Ugly Fahsion (Moda feia).
O conceito define um estilo sem gênero que busca a autenticidade e que não faz questão de aprovação. É a mistura de roupas e acessórios confortáveis que são considerados feios, desproporcionais ou esquisitos. Para a Camilla Gonçalves, que trabalha com moda internacional e é dona do Brechó Minante, a moda é sobre ter coragem de ousar.
“Ugly fashion é tudo que as pessoas sempre quiseram usar mas sempre tiveram receio de como aquilo seria aceito quando introduzido nas ruas e nas passarelas.”, definiu.
Ironicamente o estilo surgiu nas passarelas. Marcas de luxo como a Gucci e Balenciaga são há tempos conhecidas pelo seus editoriais, roupas e modelos fora do padrão. Em 2014, surgiu uma tendência semelhante, chamada Normcore, com roupas comuns neutras e sem gênero. Mas a estreia da Ugly fashion aconteceu quando o estilista Christopher Kane, da marca londrina Kering, colocou, na coleção primavera/verão 2017 modelos usando Crocs, o calçado visto por muitos como o máximo da feiura.
Feio versus belo
A estilista Renata Buzzo diz que feio é se perder em tendências e deixar de ser você mesmo.“O conceito de belo é muito relativo, talvez o que é chamado feio agora, seja o belo amanhã, tudo é questão do olhar, de repertório e de outros fatores como cultura, costumes e etc.”
Para Joás Souza, estudante de publicade e proprietário da loja Mischievøus – que comercializa seus produtos especialmente via Instagram –, a tendência mostra como a moda consegue se renovar. “[A Ugly Fashion] mostra para a sociedade do que a moda é capaz. Que o feio pode ser moda e pode ser elegante aos olhos de outras pessoas, mostrando que o feio pode ser considerado moda, sim”, disse.
E esse estilo não se limitou às passarelas. Marcas menores aderiram à proposta e levaram às ruas jovens declarando, através de suas roupas, que querem seu conforto. Camilla analisa que a aceitação do Ugly não se restringe apenas a uma classe social. “Acredito que no Brasil tenha crescido muito, e a periferia tem grande parte nesse processo da aceitação do ‘ugly’ “.
Moda empoderada
E não para por aí. Nos Estados Unidos, esse conceito foi incorporado ao movimento feminista #metoo e virou uma forma de protesto das mulheres que se recusam a ser sexualizadas e utilizadas como vitrine de roupas justas e decotadas.
Para Renata, no Brasil predomina um padrão machista que considera bonita apenas a mulher que tiver cabelos compridos, roupas que evidenciam as curvas, unhas feitas e depilação em dia. E por isso o Ugly é uma forma de manifestação das mulheres.
“[…] a questão é que para as mulheres o buraco é sempre mais embaixo e as questões que as permeiam levam tudo pra um viés de sexualização do corpo ou não. No caso das mulheres, a roupa acaba sendo mais um gatilho de protesto. A tal da ‘roupa espanta bofe’ acaba sendo uma forma de posicionamento”, explicou a estilista.
Para a Camilla, apesar de ser usado como um discurso das mulheres a tendência atingiu todos os gêneros. “O foco maior pode consistir em mulheres, pois durante todos os anos fomos repreendidas se não usássemos algo “feminino”, e hoje em dia com certeza nos sentimos mais livres de usar o que nos faz bem, mas acredito que homens, transgêneros, todos os tipos de pessoas já estão mais conscientes”.
Arte: Julia Morita
E você, já pensou em confrontar a moda tradicional hoje? Então separe sua pochete, seu crocs e entre na onda de ser feio.
Por Julia Morita
amei o post bem feito e objetivo
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