Transexuais ainda lutam por algo que deveria ser obrigatório, o respeito. Pelo direito de andar livremente nas ruas sem serem incomodados e discriminados, pelo direito de seguir qualquer carreira sem sofrer preconceito. São lutas diárias, importantes e que estão gerando frutos positivos. Essas pessoas têm se assumido com menos dificuldade e atuando em um mercado de trabalho com maior aceitação – mesmo que ainda hajam barreiras a serem ultrapassadas.
Nas passarelas, essa realidade está em ebulição. Modelos trans como Valentina Sampaio e Marcela Thomé brilharam nas passarelas da última edição do São Paulo Fashion Week e o mercado da moda parece cada vez mais aberto. A modelo transexual, Maria Clara de Melo, de 22 anos, antes conhecida como João, assumiu a sua identidade feminina e logo desfilou no SPFW. Catarinense, ela deixou sua cidade natal para viver em São Paulo.
Com um visual que exibe diversidade, agora Maria Clara está fortalecendo sua carreira como modelo trans. Ela conversou com o Pesponto em Pauta e revelou como foi o começo de sua carreira e a sua transformação na vida profissional e pessoal. No nosso bate-papo, mesmo comentando assuntos sérios, Maria foi leve, bem-humorada e falou o que sente e pensa de forma aberta e sem tabus, é claro.
Como começou sua carreira de modelo?
Comecei minha carreira quando eu era novinho ainda, acho que com 14 anos, quando fui acompanhar uma prima em uma agência de modelo, assim eles gostaram de mim e me chamaram para fazer umas fotos já no dia seguinte.
No começo você ficou com medo de entrar no mercado por causa do preconceito?
Quando começou a transformação eu já estava no mercado, então eu sabia como ia ser. Eu fiquei com medo de não ser aceita de início, e foi o que realmente aconteceu, porém não fiquei com medo de que a minha carreira de modelo fosse acabar. Eu acreditava que podia acontecer.
Como foi a recepção da sua transição pela sua agência?
A aceitação da minha agência foi supertranquila. Eu mandei um e-mail para eles falando o que estava acontecendo e ai eles falaram que gostavam bastante de mim e que iriam me acompanhar e ver o que ia acontecer para ver se eles conseguiriam trabalhar comigo como menina também, como trans. E foi assim que fizeram, sempre me dando todo o suporte e depois também no SPFW nas entrevistas eles sempre estavam comigo e até hoje eles estão super do meu lado.
Você já sofreu algum preconceito por ser trans dentro e fora da sua vida profissional?
O preconceito na vida de uma pessoa trans está embutido no dia a dia. Nem sempre o preconceito é de uma forma agressiva, as vezes ela é de uma forma mais sutil. De acordo com o nível social que você está, ele vem de uma maneira, ele vai se camuflando de acordo com o seu nível social que vai subindo. Mas já sofri sim, tanto na vida profissional tanto na vida pessoal.
Hoje em dia você acha que precisa ser feito algum avanço em relação as pessoas trans no Brasil?
Urgentemente precisa ser feito alguma coisa, porque a gente sofre quase todo dia por ser trans. Além de sofrer todos os riscos que um brasileiro pode sofrer de morre durante o dia, a gente corre um risco a mais por ser trans. Acho que o que falta no Brasil, em relação as pessoas trans, é respeito e suporte para que elas possam fazer sua transição e para que elas sejam felizes.
Quais seus planos para o futuro?
Os meus planos são fazer todos os desfiles que eu acho que tenho que fazer e acho que tudo o que eu sinto de verdade que preciso mudar em mim para me sentir melhor, por exemplo. Trabalhar muito ano que vem e sempre vou dar tudo de mim para conseguir o máximo de trabalho possível.
Por Alana Ferrer
Edição Carolina Brandileone