Skate na passarela? Modelos dançando como se não houvesse amanhã? Maquiagem com tinta no rosto? Playlist incluindo Madonna, David Bowie e Telephone da Beyoncé – feat. Lady Gaga? Seria o paraíso? Seria um sonho? Ou será que é um desfile da SPFW, mesmo?
Foi a terceira runway que vi naquela semana. Eu não esperava nada muito diferente: modelos super magras usando roupas com franja e sem estampa. Foi o que vi nos outros dois desfiles da São Paulo Fashion Week. De repente eu poderia encontrar algum famoso ou conhecer pessoas novas. A trilha sonora seria composta por sons conceituais, sem uma letra de fundo. Tudo muito clean. Tudo muito sem nada.
Mas este evento não seria no mesmo local dos outros desfiles, que aconteceram no Pavilhão da Cultura, no Ibirapuera. Eu teria que ir até a Lapa: em um lugar chamado União Fraterna. Por fora, o prédio parecia ser muito antigo, estava todo pichado. Só me dei conta de que realmente tinha ido ao endereço certo quando vi um movimento na porta, várias pessoas entrando, conversando e vestidas sempre muito estilosas.
Entreguei meu convite que dizia “Vá de Táxi, vá de Uber, vá de Busão, mas vai!!!” e subi as escadas. Quando entrei, o lugar parecia um restaurante, com várias mesas quadradas e cadeiras de madeira nas laterais do salão, deixando um vão no meio. O chão era de tacos de madeira e janelas altas deixavam o sol forte das 13h entrepassar as finas cortinas. No fundo do salão, havia um palco tampado por cortinas fechadas, mas emoldurado com detalhes dourados e prateados. Algumas pessoas estavam sentadas tomando cerveja, água e conversando.
Não encontrei conhecido algum. Fui até a lateral direita e encostei na parede. Meu convite era “standing”, o que significava que veria o desfile em pé. Conforme o tempo foi passando, mais pessoas foram entrando no salão, mas o público desse desfile parecia ser diferente dos outros. Reconheci drag queens, andrógenos, homossexuais, crianças, famílias, todos com roupas que nunca vira antes. As crianças trajavam vestimentas super coloridas e tinham cortes de cabelo que nem eu mesma – que não tenho medo de inovar nas madeixas – experimentara antes. Conheci drags dignas de participar de Ru Paul’s Drag Race.
Foi aí que o desfile começou. Logo de início, já percebi que não seria como os outros. As modelos se movimentavam, mexiam no cabelo e interagiam com os fotógrafos, ao contrário dos manequins ambulantes que vira antes. Meus olhos se perdiam nas roupas super coloridas e brilhantes. Tinha que ver a frente e as costas das roupas para entender o que estava acontecendo. Era muita informação. E eu queria cada vez mais. Diferentemente dos desfiles anteriores, vi várias roupas que poderia usar no meu dia a dia facilmente.
Tinha muita diversidade ali. Além das variedades de cor, a pluralidade de gêneros também era evidente. Foi o único desfile em que vi modelos andrógenos. A maquiagem super colorida e forte casava com as roupas de modo surpreendente. Ao longo do desfile, podia-se ver referências de outras culturas adaptadas pelas estilistas. Consegui ver traços da cultura indiana, nova iorquina, country, africana e muitas outras, às vezes, todas em um único look.
Foi aí que entraram alguns garotos. Mas eles não entraram andando, desfilando ou dançando. Entraram de SKATE. Depois ter visto dois desfiles totalmente padronizados e muito parecidos, um skate na passarela para mim parecia um absurdo. E aquele foi o melhor absurdo que vi. Cinco jovens desfilaram em cima de skates, também customizados, muito parecidos com as roupas. Depois, desceram dos skates e desfilaram a pé.
Não bastasse o novo meio de transporte, entraram duas modelos dançando. Mas não coreografadas, com passos técnicos e medidos. Era uma daquelas danças que fazemos quando estamos sozinhos em casa, escutando nossa música favorita, ou no banho, quando ninguém está vendo. Dava para perceber que as duas modelos estavam se divertindo e aproveitando seu momento na passarela.
A trilha sonora também não deixou a desejar. Em vez dos sons conceituais, sem a presença da voz humana, a Amapô apresentou um mix de hits pop, incluindo desde David Bowie, Madonna até Lady Gaga e Beyoncé.
Ao fim do desfile, as cortinas ao fundo se abriram, revelando todos os modelos sentados e encostados no palco e as estilistas à frente. A Amapô Jeans foi ovacionada com aplausos vindo de todos os cantos do salão. E foi aí que percebi que realmente tinha visto o melhor desfile de toda a minha vida.
Por Isabela Salvetti