“Pessoas estão optando por comprar roupas de marcas preocupadas com o meio ambiente e com a sociedade”, diz Harumy Yamaguchi, representante de mídias sociais da loja Joaquina Brasil
Texto: Giovanna Tuneli, 3º semestre de Jornalismo
Foto: Instagram Joaquina Brasil
A moda sustentável é, principalmente, conhecida como um meio de se produzir roupas usando materiais reciclados como matéria-prima de seus tecidos, como garrafas PET, ou por utilizarem panos que foram descartados por grandes produtores por causa de defeitos mínimos. Porém, outro aspecto importante para essa ideologia é a valorização do trabalho de quem produz, dando oportunidade para pessoas colocadas à margem da sociedade. De brechós a marcas ecológicas, a sustentabilidade foi inserida no mundo da moda.
Por um lado, o desenvolvimento da indústria têxtil é um fenômeno sociocultural, já que, conforme o estudo The Pulse of Fashion 2017 feito pelo Global Fashion Agenda, 60 milhões de pessoas estão empregadas na cadeia produtiva e a receita gerada por ela é de 1,5 trilhão de euros. De outro, essa indústria danifica o ecossistema, uma vez que são diversos os impactos negativos provocados por ela, indo desde contaminação dos lençóis freáticos até desmatamento.
A quantidade de água utilizada na produção é preocupante. Estima-se que as fábricas voltadas para produção de vestimentas utilizam 79 bilhões de metros cúbicos de água, o que equivale a 32 milhões de piscinas olímpicas. O fato é tão alarmante que, de acordo com pesquisas do The Boston Consulting Group, países que possuem maior cultivo de algodão, como China e Índia, terão de escolher, daqui alguns anos, entre continuar com a produção ou reservar a água limpa para consumo.
Com o objetivo de tentar melhorar o ecossistema, a loja de roupas sustentáveis Joaquina Brasil utiliza excesso de tecidos descartados por grandes fabricantes e matéria-prima com pequenos defeitos que não comprometem a qualidade das peças, além de terem o objetivo de se tornar uma marca zero waste, ou seja, que não gera nenhum lixo. A representante de mídias sociais da Joaquina, Harumy Yamaguchi, fala do porquê a marca foi criada: “A ideia da marca veio com a insatisfação da fundadora e CEO Roberta Negrini com a realidade da moda. Apesar de não trabalhar com isso, sua indignação começou ao assistir um documentário de moda que falava sobre condições análogas à escravidão. Após isso, quis saber mais e quis fazer diferente”.

Dados levantados pela The Pulse of Fashion Industry 2018 mostram que os investimentos em sustentabilidade aumentam a lucratividade e que não tomar nenhuma ação reduzirá as margens. Porém algumas empresas enganam o consumidor, uma vez que há uma pressão social quanto à sustentabilidade, mas continuam com o mesmo sistema de produção. Sobre isso, Harumy explica que é muito comum marcas praticarem o greenwashing (estratégia de marketing atrelada a sustentabilidade), mas, na opinião dela, o desenvolvimento sustentável na moda tem de englobar todos os processos da empresa, não apenas o midiático.
“Comecei a pensar antes de comprar, não ajo mais por impulso, só compro aquilo que realmente preciso e sei que vou usar”, diz a estudante e consumidora de moda ecológica Débora Martins, 20 anos, que passou a ter essa consciência depois dos escândalos de trabalho escravo em algumas produções têxteis. Conforme a Pesquisa Akatu 2018, 70% dos consumidores brasileiros preferem um estilo de vida sustentável. Tal dado reflete diretamente na indústria da moda, uma vez que as marcas podem perder clientes se não se adequarem a essa preferência.
A representante de mídias sociais da Joaquina Brasil, sobre o crescimento dessa vertente sustentável, fala que pessoas antenadas e preocupadas com as consequências da produção de roupas estão mudando o olhar para a forma de consumir, e estão optando por comprar de marcas que tenham um compromisso com o meio ambiente e com a sociedade, gerando o consumo consciente. Pesquisas apontam que a conscientização do consumo passa por quatro etapas: questionamento; busca por marcas com responsabilidade socioambiental; bom uso do produto; descarte adequado. Dessa forma, pode se dizer que a nova tendência de moda é ser sustentável, se preocupando com o ecossistema e com a coletividade.